terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Primeiro e inacabado conto.

Eu estava de saco cheio do mundo. Fazia três anos que saíra de casa.
Era noite e tinha conseguido um quarto bem perto da biblioteca central. Não sabia qual era a cidade. Ou sabia. É claro que eu sabia, mas não queria saber. Não era a minha cidade, nem mesmo a cidade de meus pais. Era uma cidade qualquer.
O quarto era bom, tinha um beliche, um armário com uma porta espelhada e uma mesa com três cadeiras. O tapete era velho e cheio de pó. O banheiro era no corredor e o corredor tinha um piso de madeira que rangia alto. Minhas janelas davam a um posto de gasolina e algumas lojas. Eu pagava cinco dólares por semana.
Saí à procura de um bar. Achei um a duas quadras da pensão. Era um bar de velhos, coisa de bêbado falido. Depois fui perceber que era um bar de homossexuais. Pagava a primeira dose e os deixava pagar as outras. Um dia, um velho tentou me beijar. Dei um soco nele. Eles sacaram a minha e nunca mais voltei lá.
Comprava minhas bebidas no mercado. Quase sempre vinhos.
Era o meu terceiro dia no quarto e nada estava quebrado. Em cima da mesa alguns contos e minha máquina de escrever. Eu era um escritor falido, de saco cheio da vida.
Minha estadia era muito solitária, não conhecia ninguém e nem fazia questão. Eu gostava daquele clima. Aquele clima vazio, como se nada no mundo pudesse me penetrar, ninguém poderia me ferir ou ao menos me fazer rir.
Era o sétimo dia e eu tive que pagar. A senhora Finsk bateu na porta e eu lhe dei a grana. Foi a primeira vez que paguei assim, sem atraso.
A biblioteca era minha segunda casa. Passava ali, algumas horas diárias.
Voltava para casa e lia até dormir. Acordava às três horas da manhã, acendia um cigarro e ia olhar para rua. Eu chamava isso de felicidade.
Outro dia avistei, de supetão, uma garçonete muito bonita a três quadras de casa. Trabalhava no Hawkin's e parecia um pouco triste. Eu não sabia como ela era, não tinha visto direito, mas algo me disse que ela era bonita.
Entrei no bar. Era um bar comum. Exceto que, uma vez que você pagava por um café, poderia tomar quantos cafés quisesse, até o final do dia. Meu paraíso.
O café era 25 centavos e eu consegui olhar direito para ela. Era morena, um pouco mais baixa que eu. Seus cabelos eram longos e cacheados na ponta. Sua pele era limpa e parecia levemente cuidada. Tinha profundas olheiras e suas mãos eram pequenas e uniformes.
Ela vinha e servia o café.
- O que vai querer? – perguntou.
- Uma cerveja.
- Você não tem cara de que tem dinheiro para pagar.
- E como são os caras que tem dinheiro? – perguntei.
Não me respondeu e adentrou ao bar.
Olhei para os lados, vi dois velhos muito maltrapilhos tomando cerveja. Um era careca e vestia uma camisa xadrez com furos no sovaco. Outro parecia com Hemingway depois de uma luta de boxe.
Em seguida veio minha cerveja. Não era ela quem trazia. Era um rapaz, negro, parecia muito forte e esperto. Apenas deixou em cima da minha mesa.
Tomei e voltei para casa.
Ao chegar, senhora Finsk me entregou uma carta.
Era do Henry, informando que um dos meus contos havia passado para próxima fase do New Yorker.

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